O que antes era tido como diversão, hoje também se tornou uma profissão promissora: designer de games (desenvolvedor de jogos). Apesar de no Brasil ainda não haver muitos profissionais especializados, o mercado vem se expandindo e é apontado como tendo potencial para crescer muito mais. “Desde 2008, o interesse por essa área vem aumentando. As pessoas estão começando a enxergar os jogos como ferramentas de trabalho e não apenas como diversão”, afirma Regina Felício, coordenadora do curso de Jogos Digitais da Faculdade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro.
Mercado de jogos cresce no Brasil e profissionais podem atuar em diversos segmentos
Jogos tornam-se ferramentas de trabalho e profissão de designer de games ocupa espaço no mercado de trabalho
Gostar muito de tecnologia, ser criativo e ter um amplo repertório de conhecimento, incluindo cinema, literatura e artes plásticas, são requisitos para se dar bem na profissão. “Mesmo se o profissional for um programador, que é uma área mais objetiva, deve saber que terá de lidar diariamente com a criatividade”, afirma Delmar Galisi, coordenador do curso de Design de Games da Universidade Anhembi Morumbi.
Pelo fato de o trabalho do designer de games estar interessando cada vez mais a outros setores, o profissional também deve ter conhecimento de outras áreas. Segundo Galisi, isso é decisivo para que ele consiga atender a essas novas demandas.
Atividades
Está claro que esse profissional não irá atuar apenas com entretenimento. “O uso da linguagem de jogos para outras atividades tem sido cada vez mais comum. É possível oferecer, por meio dos games, um serviço de vendas e compras online, publicidade e até jogos educativos”, afirma Leonardo Cardarelli, professor do curso de Desenho Industrial da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).
As principais funções de um designer de games estão ligadas ao planejamento dos jogos. “Esse profissional tem a ideia e irá transformá-la em um universo estético e vivo, regido por regras de funcionamento”, ressalta Cardarelli. Segundo o professor, ele não necessariamente irá construir e executar o jogo na forma de software. “O profissional apenas projeta a ideia. Então, passa para a equipe desenvolvê-la.”
Além da função de designer, que irá projetar e criar os jogos, esse profissional também pode atuar como roteirista, desenhista e programador. O roteirista é o responsável por imaginar e escrever a história do jogo. O desenhista é quem vai dar vida a essas ideias e criar os personagens e os cenários – esse profissional muitas vezes vem do curso de Desenho Industrial. Há ainda o programador, que irá atuar no desenvolvimento. É ele quem unirá todos os trabalhos e transformar o jogo em realidade. Mas, segundo Regina, é o designer quem coordena a equipe e é o gestor do projeto.
Mercado
O Brasil ainda é novo na área, mas o mercado nacional vem crescendo e ampliando as oportunidades para esses profissionais. Segundo Galisi, o setor de games está investindo em setores como internet, educação, treinamento, aplicativos (para celular e facebook) e empresas de software. “Cerca de 50 indústrias desenvolvem apenas games, mas o profissional pode atuar nessas outras áreas, que também estão demandando designers.”
Além disso, o designer de games tem mais opções para trabalhar: estúdios de animação digital, websites, escritórios de design gráfico e mídias digitais, empresas de software e também agências de publicidade, que estão começando a vender produtos por meio de jogos.
Com o aumento da necessidade de tecnologia nas empresas, esse profissional também poderá atuar no desenvolvimento de outras áreas. “A tecnologia de um game é igual ou até mais complexa que as de outros segmentos. Por isso, ele pode aplicar as suas habilidades em várias áreas”, destaca Galisi.
Criatividade
O designer de games Arthur Bobany se formou em Desenho Industrial, com ênfase em design gráfico, na Universidade Estácio de Sá, do Rio de Janeiro. “A área me atraiu por ser dinâmica e criativa. Durante o curso, porém, me interessei pelo desenvolvimento de jogos”, conta. Por isso, logo após se formar, Bobany migrou para a área.
“Meu maior desafio na carreira foi encarar um mercado altamente competitivo e com poucas oportunidades”, conta Arthur Bobany
Bobany fez estágios no escritório modelo da faculdade, no departamento de computação gráfica da Rede Globo e em outras duas empresas de design gráfico antes de atuar no desenvolvimento de jogos. “Meu interesse por games sempre existiu, mas só após terminar a faculdade é que pude me dedicar mais a isso.”
Atualmente, Bobany trabalha como lead game designer na Aquiris Games Experience, desenvolvedora independente de jogos de Porto Alegre. “Minhas principais tarefas são gerenciar as práticas de design dos projetos, desde a concepção à produção – incluindo a criação de mecânicas de jogo e balanceamento, assim como ferramentas para a produção dos projetos.”
Bobany conta que seu maior desafio na carreira foi encarar um mercado altamente competitivo e com poucas oportunidades. “Mas isso está mudando. A oferta na área está aumentando.” Segundo ele, o mercado tem crescido principalmente com o aumento de plataformas para celulares, que proporcionam que projetos menores sejam viáveis comercialmente.
Formação
Há cursos técnicos, de graduação, extensão e pós-graduação na área. Entretanto, por ser um curso relativamente novo, não há muitas faculdades que oferecem essa formação.
Entre as universidades, a Anhembi Morumbi é a única que oferece graduação na área, com duração de quatro anos. No entanto, algumas das faculdades possuem curso superior de tecnologia em Jogos Digitais, com duração de dois anos e meio. Entre elas, a Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas), de São Paulo (PUC-SP) e do Paraná (PUC-PR), a Estácio de Sá, a Faculdade de Tecnologia Infórium e a Universidade Cruzeiro do Sul. Na PUC-Rio, o curso oferecido é o de Desenho Industrial, com habilitação em Mídias Digitais, que inclui uma disciplina com enfoque em design de games.
Salários
Muitos desses profissionais acabam atuando como autônomos, mas chegam ao mercado com uma remuneração média de R$ 4 mil. “Ele pode trabalhar em vários projetos ao mesmo tempo e, por isso, a sua faixa salarial normalmente é bem maior”, afirma Regina.
Segundo Galisi, pelo fato de a profissão ainda não ser regulamentada não há faixas salariais bem definidas para esses profissionais. “Depende muito do projeto e da empresa”, diz.
Bobany afirma que a média salarial de um game designer é de R$ 900 e R$ 3 mil, dependendo da experiência e do tamanho da empresa em que está.